Seu carro está seguro? Como a tecnologia UWB está reforçando a segurança veicular.

A busca por conveniência impulsionou avanços notáveis nos sistemas de entrada automotiva. De simples chaves mecânicas a tecnologias sofisticadas como entrada sem chave e partida por botão, cada inovação trouxe consigo novos níveis de conforto, e também de vulnerabilidade. À medida que ladrões de carros se tornam mais engenhosos, a segurança automotiva precisa acompanhar esse ritmo. É nesse cenário que a tecnologia de banda ultralarga (UWB) desponta como uma potencial revolução no combate a roubos de veículos.

Neste primeiro artigo da série, exploramos a evolução dos sistemas de entrada de veículos, os principais ataques de sinal utilizados por criminosos e como as fabricantes, incluindo a Tesla, estão lidando com essas ameaças. Na segunda parte, abordaremos em detalhes a tecnologia UWB, suas aplicações automotivas e seus desafios de segurança.

Da chave ao smartphone: uma linha do tempo da entrada automotiva

A história dos sistemas de entrada automotiva começa com as chaves físicas convencionais, que ofereciam proteção básica, mas podiam ser facilmente duplicadas. O avanço mais significativo veio com os sistemas de entrada remota sem chave (RKE), introduzidos no final dos anos 1980. Com eles, bastava um clique no controle remoto para abrir as portas do veículo.

Logo após, surgiram os sistemas de chave inteligente, também conhecidos como entrada passiva sem chave (PKE) ou entrada passiva com partida passiva (PEPS). Com essa tecnologia, o simples fato de o motorista se aproximar do veículo era suficiente para destravar as portas automaticamente, e dar partida sem inserir uma chave.

Essa conveniência, no entanto, trouxe novos riscos. Os criminosos passaram a explorar falhas de comunicação nos sistemas de rádio, criando métodos de ataque sofisticados, como os ataques de retransmissão, que simulam a presença da chave perto do veículo.

Conheça os principais tipos de ataques de sinal

Os ataques contra sistemas de entrada veicular modernos geralmente exploram vulnerabilidades em comunicações sem fio, como Bluetooth, RFID e protocolos de rádio. A seguir, explicamos os principais tipos:

1. Ataque de Interferência (Jamming)

O criminoso emite sinais de rádio com potência superior, bloqueando a comunicação entre a chave e o veículo. Isso impede que o carro trave corretamente — e o proprietário muitas vezes nem percebe.

2. Ataque de Repetição (Replay)

Nesse método, o criminoso grava o sinal enviado pela chave e o reproduz mais tarde para destravar o carro. É eficaz contra sistemas que usam códigos fixos.

3. Jam Rolante (Jamming com Captura)

Uma versão mais avançada que combina bloqueio e interceptação. O hacker bloqueia a recepção do sinal pelo veículo, forçando o proprietário a pressionar o botão mais de uma vez, e assim captura múltiplos sinais úteis para um ataque posterior.

4. Ataque de Retransmissão (Relay)

Talvez o mais comum hoje. O criminoso utiliza dois dispositivos: um próximo ao carro e outro próximo à chave (por exemplo, dentro da casa da vítima). Os sinais são retransmitidos entre os dispositivos, fazendo o carro “acreditar” que a chave está por perto.

Caso real: tesla model 3 e os limites do Bluetooth

Mesmo entre os veículos mais avançados do mundo, vulnerabilidades ainda existem. Um relatório recente da equipe de pesquisadores da GoGoByte analisou o Tesla Model 3 e sua suposta proteção via banda ultralarga (UWB).

Apesar de o veículo possuir suporte à UWB, o estudo mostrou que a tecnologia ainda não é utilizada plenamente para autenticação por distância. O sistema de entrada continua operando principalmente via Bluetooth, o que o mantém vulnerável a ataques de retransmissão, mesmo em modelos recentes.

A Tesla respondeu afirmando estar trabalhando para melhorar a segurança via UWB, mas até lá, recomenda-se o uso do recurso PIN to drive, que exige a inserção de um PIN de 4 dígitos antes de dar partida no veículo. Essa função atua como uma camada adicional de segurança, semelhante à autenticação multifator (MFA) usada em sistemas digitais.

O desafio da tecnologia automotiva

A evolução da entrada automotiva mostra uma constante corrida entre inovação e ameaça. Cada novo recurso introduzido, por mais avançado que seja, precisa considerar as vulnerabilidades que podem ser exploradas por atacantes.

Enquanto tecnologias como RFID e Bluetooth continuam sendo alvos, a UWB representa uma promessa concreta de proteção mais eficaz, graças à sua capacidade de medição precisa de distância e maior resistência a ataques de retransmissão. No entanto, como demonstra o caso da Tesla, a segurança depende tanto da tecnologia quanto da forma como ela é implementada.